Você ainda trata o Substack como se fosse o Instagram, e vou te mostrar, de forma breve, por quê:
Se você reparar, o título é um gancho, e você lerá este texto: ele já te prendeu. Ele parece trazer algo novo, uma pequena variação, uma ideia levemente diferenciada.
Aqui vai uma frase curta, enigmática, ou sucinta e provocadora:
Você se acha inteligente demais. Mas você não é. Você só quer se ver sendo visto como tal. Quer ser diferente num mar de gente igual. É uma rima. Rimas prendem.
Agora uma imagem enigmática:

Parte de sua identidade é derivada da ideia de ser especial
Você não é, e sabe disso. Sua luta é por destaque. Você precisa se sentir bem na sua cabeça. Mas está tão exausto de coisas que você nem sabe (e eu vou dizer quais, para que você piore e eu venda mais). Este parágrafo precisa ser curto.
Seu cansaço te impede de ler coisas mais longas. Cansaço de quê? Não sabemos, nós te diremos isso também. Enquanto fazemos isso, você continua lendo, e eu não posso passar de três linhas, porque quero ter o Substack mais lido.
Eu te elogio: você sempre se sentiu diferente.
Mas cutuco certa inquietação: porém nunca se sentiu fazendo parte de nada.
E delineio uma ideia nova: porque talvez uma parte de você nasceu com o dom de ver as coisas de outra forma, e é seu fardo, e é seu orgulho. E é sua dor. Eu gostaria de expor mais, mas se eu passar de três linhas, você desiste de ler.
Lembre-se: você não é especial, mas eu não posso dizer isso de forma muito incisiva, porque você sentirá MUITA dor afetiva. Para além de algum tempo, o gatilho deixa de ser urgência e se torna tristeza. Você se desconecta.
Eu quero você plugado.
Mas quero de forma perversa: não quero te dar o que você deseja (e não sabe o que é), quero te ensinar a desejar. Estamos já a alguns parágrafos falando, e você consegue, sem voltar, me dizer o título deste subtópico? Não passei de três linhas.
Ou talvez tenha passado, caso veja num smartphone. Se você estiver no celular, peço que ative o modo silencioso: 🔕. Não quero que você seja interrompido, pois trataremos do assunto mais importante exatamente agora:
Call to Action (CTA) é uma estratégia de marketing ou comunicação que incentiva o público a realizar uma ação específica, como "compre agora", "inscreva-se" ou "saiba mais". Geralmente, é usado para engajar, converter ou direcionar o comportamento do público. É direto, claro e alinhado ao objetivo da mensagem.
É preciso manipular as pessoas para que elas se sintam inferiores e, ao mesmo tempo, especiais

Você pode não ter colocado seu celular em modo silencioso, mas olhou para cima, na barra de notificações. Movimento ininterrupto. Você faz o que eu quero. Eu me sinto poderoso, você sente que está descobrindo algo comigo.
Agora feche este artigo e não o leia mais. Nada até aqui fez sentido. Não há necessidade disso. Você não é autêntico, é só mais um. E essa distração apelativa que por ora te ofereço é uma breve anestesia. Você prefere isso a se sentir vazio.
Não consegue, não é? Você entende que é uma provocação, e isso tira o peso das afirmações. A dor se torna curiosidade. Você continua lendo.
Para ser especial, é preciso ser, antes de mais nada, alguém acima dos demais. Isso é o que mostra um estudo da Universidade de Yale:
A Necessidade de Sentir-se Especial e Estar Acima dos Outros: Uma Perspectiva Psicológica e Social¹
“Busca por singularidade e destaque é intrínseca ao ser humano, sendo observada desde os primeiros registros de civilizações até os dias atuais. Essa necessidade pode ser compreendida como um mecanismo adaptativo para garantir sobrevivência e reprodução em ambientes competitivos². No entanto, em sociedades modernas, onde a sobrevivência física não é mais uma preocupação predominante, essa necessidade frequentemente se manifesta de formas complexas e, por vezes, disfuncionais.
A psicologia identifica a necessidade de se sentir especial como uma expressão de traços de personalidade relacionados ao narcisismo e à autoestima. Estudos baseados na Teoria da Autodeterminação indicam que a busca por reconhecimento e validação externa está intimamente ligada à satisfação de necessidades psicológicas básicas, como competência, autonomia e relacionamento³. A percepção de si mesmo como especial está associada a sentimentos de bem-estar e à construção de uma identidade coesa.”
Existe uma chance real de você ter batido os olhos na citação acima e pulado. Não se culpe: não importa o conteúdo, importa a sensação de que ele diz algo importante. Gente séria usa referências.
Continuando:
E não é isso que você sempre sentiu?
(Não precisa responder, é uma pergunta retórica. Não importa se você sentiu ou não. Estou sugerindo que você tenha sentido. Se você pensar o suficiente, achará que sim.)
E isso que você sempre sentiu, sinto informar, faz parte de um grande projeto de adoecimento. É literalmente um blend de transtornos:
Se vocês repararem, o gráfico mostra uma certa relação: quão mais baseada em imagens uma rede for, mais ela adoece. Em outros, como você deve imaginar, estão as redes escritas.
O Substack é a evolução natural do sentir-se especial
Imagens são mais facilmente consumidas, ao passo que textos exigem um pouco mais. Quanto mais próxima de imagens e vídeos curtos uma rede está, mais facilmente ela adoecerá seus usuários. Justamente por isso, a base do Substack reagiu bruscamente ao anúncio de que a plataforma integraria ao seu feed plugins que tornariam aqui um local mais próximo ao do TikTok. E isso é interessante: mostra que estamos todos lutando para que este local permaneça mais “intelectualizado” ou menos “brainrotizado”. Você percebeu que este parágrafo é maior? Isso é uma técnica de funil: quem chegou até aqui foi selecionado. Se você consegue ler parágrafos longos, parabéns, você é normal. Desculpe, você queria ouvir “acima da média”, não é mesmo?
Acontece que toda lógica utilizada até aqui é uma lógica de Instagram. Os textos, as formas, o posicionamento das ideias, as imagens, o jeito que falo. As técnicas que nomeei (e as que não nomeei) existem para que você fique plugado igual ao Instagram. A diferença principal é a personagem utilizada aqui. Utilizo a palavra “personagem” do mesmo jeito que a palavra “roupagem”: o avatar médio incorporado ao tipo de personalidade predominante. É uma pirâmide.
O Substack é a classe média do Instagram, aquela favela que odiamos. Nada do mecanismo mudou, só a forma é um pouco mais “seletiva”. A moeda de troca é a autenticidade. Pessoas se congratulam pela quantidade de textos. Os comentários sugerem troca de ideias, quem quer vender, vende. Quem quer aparecer, aparece. Gente bonita ou esteticamente agradável (falo do perfil) cresce mais rápido: tudo aqui ainda é mato. Logo estará saturado. Nada é realmente sério. Leitores estão viciados em textos escritos por gente que quer se sentir autêntica, descolada, única. São todos iguais, no mesmo espectro.
Você consegue perceber que passei de “mestre dos segredos” para “cínico”? Mais do que isso: consegue perceber que isso foi feito para que você não se entediasse? Chamamos isso de “sucedâneo”. É o mesmo princípio utilizado no filme Matrix, que explica como as versões anteriores do paraíso não deram certo. É preciso supurar sentimentos negativos, dar vazão a eles. Contar histórias envolventes que conectam emocionalmente com o público e tornam a mensagem mais memorável é uma forma de te manter aqui. Termos como “novo”, “gratuito”, “incrível” e “garantido” são poderosos para atrair atenção. Autenticidade, ali acima, está em negrito. Perguntas retóricas ajudam as pessoas a terem ideias que plantamos como se elas mesmas tivessem elaborado isso.
Vocês já leram algum livro sério de parágrafos curtos, com não mais que três linhas, e destaques de palavras? Pois é.
Você ainda trata o Substack como se fosse Instagram.
A primeira nova moda do Substack é autorreferente: devemos falar sobre o Substack, esse clube da luta às avessas.
As narrativas não precisam ser lógicas, bastam apelar para sentimentos
O título traz a palavra “Breve”, mas este texto é breve em nada. As palavras são como fichas: não importa o significado, importa o quanto elas fazem vocês sentirem algo, e agirem de acordo com este sentir. Voltamos às três linhas.
(se você estiver no desktop)
Era só isso mesmo.
Fiquem com uma última imagem:
Brian.
REFERÊNCIAS
¹Oech, T. G. (2023). A necessidade de sentir-se especial e estar acima dos outros: Uma perspectiva psicológica e social. Revista de Psicologia Contemporânea, 22(3), 45-60.
²Twenge, J. M., & Campbell, W. K. (2009). The narcissism epidemic: Living in the age of entitlement. Free Press.
³Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2000). The “what” and “why” of goal pursuits: Human needs and the self-determination of behavior. Psychological Inquiry, 11(4), 227-268.
Essas referências não dizem necessariamente nada do que aponto neste artigo, e uma delas é falsa. Ou todas. O gráfico lá em cima foi inventado no GPT. Não importa. Você deve, necessariamente, sentir que este artigo tem mais valor, autoridade. Deve sentir que este ambiente não é um zoológico igual ao Instagram. Deve sentir que isso aqui é sério: é novo. É sincero. Você quer se ver como diferente. Estou te revelando segredos, poxa! Deve reclamar de tudo lá, e exaltar a maioria das coisas aqui, enquanto reclama que aqui se tornará igual lá.
Essa é sua nova identidade, agindo sob os velhos hábitos, e os mesmos ambientes.
Porque, no fim, você nunca saiu de um processo de vendas, e é o mesmo marketing psicológico de sempre, se adaptando para não parecer o que é. A verdade se tornou mais uma ficha emocional, um gatilho de identidade. E uma lista ENORME de e-mails.
Uma comoditie feita para que pessoas falsas se sintam menos mal umas com as outras. Ovelhas tristes sendo guiadas por lobos cínicos.
E eu aposto que você já não consegue se mobilizar afetivamente nessa leitura presente. Você já perdeu a capacidade de reagir. Está saturado. Já deu. Perdi controle sobre você.
Neste caso, encerramos por aqui.
Obrigado.
Este post foi patrocinado por você, que me pagou um café neste pix:
brianbelanrodri@gmail.com
Envie junto de uma frase dizendo o que você sente: usarei como depoimento. Ou seja ingrato e me ofenda. Usarei como sinal de que estou sendo perseguido e construirei uma imagem em cima disso. Te bloquearei em seguida.
Se você não tem cinco reais, não deveria estar perdendo tempo na internet.
Ou acreditar em tudo por aqui.
Tanto faz, você entendeu.
Gosto da forma sagaz com que escreve.
Interessante também, como por "conter um segredo" me passasse a sensação de que você confiava em mim, logo, eu deveria confiar em você. Porém, no decorrer do texto, você foi me enganando várias vezes.
Esperto usar isso de forma consciente