Essas coisas que aprendi a muito custo
E que você poderá ter agora, lendo este texto rápido e direto, separado em pequenos blocos
Uma vez, ouvi o seguinte: “Não conte nada para sua mãe.”
Nada bom surge de coisas que começam com essa estrutura. Se você não pode contar algo para alguém e sente, no tom de voz da pessoa, que há algo errado, é melhor ouvir sua intuição antes de escutar sua razão. É melhor cair fora.
Todos os anos, pessoas são traídas, abusadas, enganadas ou manipuladas com uma frase muito simples, como esta. São palavras que saem da boca de pessoas que, mesmo que não saibam exatamente o que estão fazendo, têm consciência de que há algo errado no que dizem.
Talvez você já tenha ouvido algo assim. Talvez até tenha dito. Não importa. De hoje em diante, você prestará atenção nesse detalhe e se prevenirá contra ele, mesmo que tenha sido você a dizer: “Não conte nada para…”.
Repitam o mantra sagrado: para você, com você, ou apesar de você.
Busque seu sonho, ou sonhos, sabendo que você os compartilhará com alguém, e terá alguém ao seu lado na jornada, mas também encontrará pessoas ao longo do caminho que, curiosamente, não terão o mesmo sonho que você.
Todas as pessoas em nossa vida podem ser classificadas em uma dessas três categorias: aquelas que amamos (para você), aquelas que estarão conosco na jornada (com você), e aquelas que aparecerão para nos desanimar e nos colocar para baixo (apesar de você).
É possível que algumas delas ocupem mais de uma posição, como os pais: que estarão para você, e você, em algum momento, terá que seguir seu caminho, apesar deles. Neste caso, ao menos, não é por mal.
Somos criaturas movidas por sonhos.
Somos feitos dos sonhos que se quebraram e foram consertados com pó de ouro.
Um sonho para um homem é como massa para a gravidade: quanto mais massivo, mais ele deforma o espaço ao seu redor, e isso demanda responsabilidade, conosco e com aqueles que estão ao nosso redor.
Querem saber quem vocês teriam sido? Perguntem aos seus pais o que vocês mais faziam quando eram crianças, o que mais queriam, o que mais buscavam. Lá vocês encontrarão “aquilo que se perdeu”.
E isso não significa apenas aquela ideia genérica de ser 'astronauta' ou 'bombeiro', mas o interesse genuíno que buscavam, até nas últimas coisas.
Eram ágeis? Eram quietos? Eram estudiosos? Qual foi a descoberta mais impactante da vida de vocês quando eram pequenos? Onde cresceram?
O terreno onde crescem as vinhas é mais importante que o próprio vinho.
Um adulto é uma criança com recursos, mas agora sem os sonhos.
Para dar um exemplo: eu cresci perto de um aeroporto, dentro de uma biblioteca e numa sala de orquestra. Essas foram as três experiências significativas da minha vida, que esqueci por volta dos meus 20 anos e só fui lembrar aos 30.
Agora tenho recursos. Agora posso comprar os livros, visitar as orquestras e, talvez, tentar tirar a habilitação de piloto.
Recolham seus sonhos para que eles possam se integrar aos outros sonhos, nessa hierarquia necessária que é crescer para poder dissipar nossos resultados entre quem amamos.
Aprenda a escrever um diário e use ele como aquele amigo que você nunca teve. Há coisas que não podemos falar para nossos parceiros, ou familiares, ou amigos.
Só para nosso diário e, talvez, nosso psicólogo ou confessor. Lembrem-se de Don Draper: há coisas que desmoronam quando você as traz para fora.
Intimidade é aquilo que é só nosso e não é de outra pessoa.
Cultive intimidade.
Compre já seu diário.
Entenda que o tempo que você gasta tentando ser ‘homem’ é o mesmo gasto em estudos, em esportes, em videogames.
Houve uma época em sua infância (talvez com seu primeiro video-game) onde você esteve mais próximo de “ser homem” do que jamais esteve: é quando você viu algo e pensou “eu queria ter feito isso”.
Pode ser um jogo, uma revista em quadrinhos, um desenho, um filme. Este é o maior engano que as pessoas podem cometer em uma vida: achar que a fonte inesgotável de sonhos e ideias que elas possuem é algo errado. Não é.
Sem algo profundamente desejoso e projetivo (o sonho é a projeção de um desejo) ninguém aguenta fazer a parte ruim da realização de qualquer sonho.
É um paradoxo. “Homem não assiste desenho animado”. Os produtores de mangá foram, ao seu próprio modo, consumidores quando crianças. Isso não teria acontecido se eles perdessem tempo seguindo alguns instagramers aí.
Acreditem, é possível ficar rico com a seriedade de uma criança quando brinca. O que quero dizer é: pare já com essa neurose braba de achar que um homem na vida adulta não pode fazer certas coisas.
Você pode jogar videogame, pode assistir anime, e também pode ter seus joguinhos de tabuleiro. O que você não pode é morar dentro deles, quando eles não são sua profissão. Como minha avó dizia: se os copos estão lavados, a cachaça pode ser servida.
Agora, e isso é importante, se você usa essas coisas como sua fonte de identidade, então isso é um problema. Há uma diferença aí. E a diferença é aquela entre lutar uma vida para ser, digamos, ‘figurinista de uma produtora de filmes’ , e sair na rua fantasiado de pirata.
Aceite que você talvez nunca terá amor ou reconhecimento de algumas pessoas.
Há pessoas, os pais mais problemáticos, por exemplo, que são incapazes de demonstrar empatia para com os filhos.
O ponto é que, diante de uma situação familiar dessas, a melhor coisa a se fazer é seguir em frente, sob risco de se tornar um adulto frustrado, se não seguirmos.
Vocês ficariam surpresos com a quantidade de pessoas que mendigam um pedaço de pão em lugares onde elas nunca receberiam uma migalha.
Não é porque não pudemos ter uma família "de início" que não poderemos ter uma segunda família em nossas vidas. Mas precisamos de muito suporte nesse intervalo, senão repetiremos alguns padrões.
A maioria das pessoas falha em coisas para as quais elas próprias não foram treinadas para suportar. Soa engraçado, não?
O maior exemplo é a própria falha: raramente treinamos para falhar, e é uma das coisas mais frequentes que encontraremos em nossas vidas. Treinar para falhar é ser exposto ao elemento potencialmente estressante (que é emocional) e se dessensibilizar a ele.
Cada vez que caímos em um tatame, dói menos, tanto fisicamente quanto psicologicamente. E mesmo que continue doendo, nós já conhecemos o percurso, e a segurança é um remédio (há pessoas viciadas em segurança, não podemos esquecer).
Falhar com pessoas, falhar em manter pessoas, e até falhar em ter pessoas ao nosso lado será comum, por que não treinar isso?
(pelo amor de santo deus, isso não significa destruir coisas intencionalmente, mas se colocar diante delas de coração limpo e aberto: as pessoas vão nos deixar porque as pessoas morrem, cedo ou tarde, de um modo ou de outro, mas as condições da partida importam muito, e são definidas pela qualidade da relação que mantivemos)
Precisamos desenvolver repertórios para lidar com essas coisas. E precisamos aprender a abandonar certas pessoas, para o nosso próprio bem e para o bem delas. Mas como fazer isso? É menos sobre o ato e mais sobre o que virá depois.
Como Marie Louise von Franz disse: “É preciso aprender a ser desleal com Eros”.
Isto significa: saber se retirar de algumas relações.
Expressar publicamente a gratidão é essencial.
Expressar publicamente a gratidão é uma forma de incentivar a pessoa a continuar se comportando positivamente. Vocês ficariam surpresos ao descobrir o quanto uma pessoa pensa em desistir quando não recebe o feedback necessário.
Elogie publicamente, sempre de maneira justa. Elogiar sem merecimento desmerece tanto o elogio quanto a pessoa que o recebe e quem o faz.
Aliás, já que a oportunidade se apresenta: eu gostaria de agradecer ao
e ao pelas horas e mais horas investidas em boas conversas. São dois amigos para a vida. O primeiro, um grande escritor, e o segundo, a pessoa mais culta que eu já conheci nesta vida. A maior parte de minhas melhores ideias surgiu conversando com estes dois (e com o Gabriel Maia e o Gabriel Dourado, que não estão aqui).Há também o
, com o Substack mais bonito e interessante dessas bandas brasilo-lusófonas. Há muitos outros que eu gostaria de citar no futuro.Mas há também vocês, porque agora somos 500. Obrigado pelo interesse!
Muito obrigado!
Por hoje é só.
Brian.
Tamo junto bro
Tamo junto.